Do CADEE ao Cirm: a construção de um espaço de inclusão que atravessa gerações

Grupo de Convivência do Cirm
Foto: Rafael Dourado
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Em Maracanaú, no coração da política pública voltada à pessoa com deficiência, há uma história de transformação silenciosa e potente que se fortaleceu com o tempo — a história do Centro Integrado de Reabilitação de Maracanaú, o Cirm. Mas antes do Cirm existir, havia o CADEE (Centro de Apoio ao Desenvolvimento da Educação Especial), um equipamento criado pela Prefeitura de Maracanaú que marcou uma geração e lançou as bases do que hoje é referência em reabilitação e inclusão no município.

A origem do CADEE remonta aos anos 1990, quando a Secretaria de Educação implantou o centro visando oferecer escolarização especializada e serviços de reabilitação para crianças e adolescentes com deficiência. O equipamento funcionava em tempo integral: pela manhã, tarde e noite. As noites, aliás, eram dedicadas aos adultos, em turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Era um espaço pioneiro, com acessibilidade arquitetônica, equipe multiprofissional e um modelo que integrava as dimensões pedagógica e terapêutica.

Durante muito tempo, o CADEE acolheu alunos com deficiência intelectual, física, múltipla ou com transtorno do espectro autista, oferecendo não somente ensino adaptado, mas também atendimentos em fonoaudiologia, psicologia, fisioterapia e terapia ocupacional. Era uma instituição pública que proporcionava cuidado integral e vínculo comunitário.

Mas o cenário começou a mudar a partir de 2009, com a promulgação de normas federais que orientavam a inclusão de estudantes com deficiência no ensino regular. Em 2011, esse processo foi consolidado, e os alunos do CADEE foram gradualmente transferidos para escolas regulares do município. O antigo modelo de escolarização especializada foi substituído pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado nas próprias escolas.

Com essa transição, o CADEE perdeu sua função original como espaço educacional. Muitos dos profissionais da educação foram deslocados para as escolas, e o prédio, com toda sua estrutura de acessibilidade e história construída, passou a ser voltado exclusivamente para a saúde. Em 2013, a Secretaria de Saúde de Maracanaú assumiu definitivamente a gestão do espaço, que se transformou no atual Cirm.

O nascimento do Grupo de Convivência:
Com o fim da escolarização no CADEE, surgiu uma nova demanda: o que fazer com aqueles jovens e adultos com deficiência que haviam crescido ali dentro? Muitos deles passaram mais de uma década frequentando o espaço, criando laços profundos com colegas, profissionais e a rotina do centro. A saída repentina para escolas regulares, muitas vezes distantes, noturnas e sem a mesma estrutura, gerou angústia em diversas famílias. Alguns jovens desenvolveram sintomas de depressão, isolamento e perda de estímulo.

Diante disso, nasceu em 2011 o Grupo de Convivência do Cirm. Inspirado em experiências similares desenvolvidas com pessoas idosas, o grupo foi pensado como uma forma de manter o vínculo social, afetivo e terapêutico de adultos com deficiência com o espaço onde cresceram. Não era mais o CADEE, mas o espírito de acolhimento seguia vivo.

Hoje, o Grupo de Convivência é um dos pilares do Cirm. Ele atende, prioritariamente, adultos a partir de 18 anos, com deficiência intelectual, física, múltipla e, em alguns casos, autismo. A maioria dos participantes é oriunda da antiga escolarização do CADEE, mas o grupo vem recebendo também novos integrantes encaminhados pela rede de saúde ou que buscam diretamente o serviço.

As atividades ocorrem duas vezes por semana, com foco na inclusão, autonomia e bem-estar. Às segundas-feiras, acontece o grande encontro, com cerca de 70 participantes. Oficinas de pintura, capoeira, reabilitação física e momentos de integração coletiva fazem parte da programação. Às sextas-feiras, o grupo menor se reúne, formado por usuários que conseguem se deslocar sozinhos até o Cirm.

A iniciativa conta com a parceria da Secretaria de Assistência Social, que oferece transporte social, lanche e professor de capoeira. As ações extrapolam os muros do centro: o grupo já participou de eventos como a Corrida de Rua da UNIFOR, Corrida da Pessoa com Deficiência de Maracanaú, passeios ao Parque do Cocó, Praia do Futuro, entre outros espaços de lazer e cultura.

Como acessar os serviços?
O Cirm é um equipamento público que visa habilitar e reabilitar usuários, por meio de serviços humanizados, promovendo melhoria das condições de vida e saúde, desenvolvendo ainda inclusão ao esporte e integração social. O Centro funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h, na Avenida X, s/n, bairro Jereissati II. O atendimento é realizado, por meio de consultas encaminhadas pelas Unidades Básicas de Saúde da Família e agendadas pelo Sistema de Regulação do Município (SISREG). Telefones para contato: 3383-6470 / 6471.